01-11-2010 14:45

A estrutura

  A ELiS é definida estruturalmente como um sistema alfabético linear de escrita das línguas de sinais. Algumas considerações devem ser feitas a respeito desta definição: o que é um sistema de escrita alfabético? O que é um sistema de escrita linear? Qual a diferença entre ser um sistema de escrita das línguas de sinais ou da Libras especificamente? Um sistema de escrita alfabético é um sistema que registra graficamente as unidades menores de uma língua. No caso das línguas orais, são os sistemas de escrita que registram separadamente consoantes e vogais. No caso das línguas de sinais, um sistema de escrita alfabético é um sistema que registra separadamente os elementos dos cinco parâmetros de formação dos sinais, a saber, configuração de mãos, orientação da palma, ponto de articulação, movimento e expressões não-manuais. Isto significa que, na ELiS, que é um sistema de escrita alfabético, não se usam as letras do alfabeto latino ou de qualquer outro alfabeto que represente os sons das línguas orais. Usam-se sim, letras próprias para representar os elementos dos cinco parâmetros, que são elementos visuais, e não sonoros. Por exemplo, na Libras, nariz é um de seus pontos de articulação, ou seja, nariz é um elemento linguístico, portanto, a ELiS tem uma letra para representá-lo: G . O movimento abrir a mão é outro elemento linguístico, e uma outra letra o representa: a . As letras da ELiS serão todas apresentadas nas seções de 2.1 a 2.5. Um sistema de escrita linear é aquele que registra suas letras sucessivamente umas às outras, seja verticalmente ou horizontalmente. A ELiS é escrita horizontalmente da esquerda para a direita e, como qualquer outro sistema linear, registra suas letras uma depois da outra.

Muito se argumentou se isto não feriria o princípio de simultaneidade tão produtivo nas línguas de sinais. Segundo este princípio, ao se realizar um sinal, todos os parâmetros são realizados ao mesmo tempo. Em pesquisa de doutorado, argumento que os sinais são tanto sucessivos (têm a realização de um parâmetro de cada vez), quanto simultâneos, (têm a realização de todos os parâmetros ao mesmo tempo), pois são, na verdade, cumulativos. Dizer que o sinal é cumulativo significa dizer que ao realizá-lo, uma pessoa realiza um primeiro parâmetro, acumula-o ao segundo, acumula os dois ao terceiro, em uma ação sucessiva, e quando chega a realizar o último parâmetro, por já haver acumulado todos os demais, realizados todos ao mesmo tempo, em uma ação simultânea.

Desta forma, uma escrita linear que respeite a ordem de sucessão e acumulação dos parâmetros é bastante adequada às línguas de sinais. A ELiS registra linearmente, necessariamente nesta ordem, a configuração de mão, a orientação da palma, o ponto de articulação e o movimento (as expressões não-manuais estão contidas no parâmetro movimento). Assim, quando o leitor decodifica a palavra, vai acumulando os parâmetros na mão até a realização final, que é uma expressão de simultaneidade. Por exemplo, o sinal para GOIÂNIA é assim escrito: ¢°1wHb, em que a configuração de mão é uma combinação de três configurações de dedos (ver seção 2.1) ¢°1 que representam a configuração em G; o segundo parâmetro é a orientação palma, esta voltada para frente, representada pela letra w; o terceiro é o ponto de articulação espaço neutro, representado pela letra H; e o último é o movimento de girar o antebraço representado pela letra b. Ao ler este sinal, o leitor realiza sucessivamente cada um dos parâmetros acumulando-os. Assim, realiza/lê a configuração de mão ¢°1, mantém a mão com esta configuração ao realizar a orientação da palma w, mantém ambas ao posicionar a mão no ponto de articulação H e mantém os três ao realizar o movimento b.

Todo alfabeto, seja de língua oral, como o alfabeto latino, ou de língua de sinais, como a ELiS, representa apenas imperfeitamente uma língua e é nesta imperfeição que reside sua força. Se os alfabetos representassem exatamente a realização de uma língua seriam inviáveis para uma escrita cotidiana pelo grande número de letras que teriam, pela falta de padronização das inúmeras possibilidades de pronúncia e pelo grau muito profundo de análise linguística que uma pessoa qualquer teria que realizar ao escrever. Seria oneroso demais, pesado demais. Ao simplificar sua representação, o alfabeto perde em precisão, mas ganha em agilidade e praticidade. Se o objetivo é fazer uma transcrição fonética, a opção pela precisão é melhor, se o objetivo é um produto para uso cotidiano, a opção pela praticidade é melhor. Mesmo assim, um alfabeto é um exercício contínuo de balanceamento dos dois extremos. Um alfabeto de língua oral, que representa sons, pode ser usado por qualquer língua oral. Porém, ao ser utilizado por uma língua que até então não o utilizava, deve passar por algumas adaptações, como excluir ou introduzir letras, ou modificar o valor de algumas, a fim de ser adaptado aos sons existentes na língua que vai agora representar e inexistentes nas que já representava, como fizeram os gregos ao se valerem do alfabeto fenício na antiguidade (Higounet, 2003). O mesmo se dá com a ELiS que foi criada e experimentada na Libras, mas por ser de estrutura alfabética, ou seja, por representar os elementos menores desta língua, serve à escrita de qualquer língua de sinais. Para isto, sabemos que será preciso realizar as adaptações acima referidas, para, por exemplo, representar algum ponto de articulação usado em outra língua de sinais que não seja usado na Libras, ou para eliminar uma letra que represente algum movimento da Libras que não seja realizado em outra língua de sinais. Assim, a ELiS pode ser utilizada para a escrita de qualquer língua de sinais, apesar de ter sido criada baseada na Libras. Na ELiS, quatro são os parâmetros utilizados para escrever os sinais: Configuração de Dedos (CD), Orientação da Palma (OP), Ponto de Articulação (PA) e Movimento (Mov). Na escrita de cada palavra, estes parâmetros são postados necessariamente nesta ordem. Assim, como no exemplo dado anteriormente, na escrita do sinal para GOIÂNIA, temos: CD ¢°1

OP w

PA H

Mov b

Mestre em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás, Doutora em Linguística pela Universidade

Mariângela ESTELITA

 

Federal de Santa Catarina e criadora da ELiS, sistema de Escrita das Línguas de Sinais.

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